Um pouco sobre as ordens clássicas

Podemos definir como ordem arquitetônica, aqui remetendo-se às ordens da arquitetura clássica, portanto gregas e romanas, como um elemento que modifica uma construção dando a ela características próprias, identificando um tipo específico de edificação, com uma função particular. Segundo o pesquisador John Summerson (2006:12), “as ordens vieram propiciar uma gama de expressões arquitetônicas, variando da rudeza e da firmeza até a esbelteza e a delicadeza. No verdadeiro projeto clássico, a seleção da ordem é uma questão vital – é a escolha do tom”. 
Basicamente, são cinco as ordens arquitetônicas clássicas: a dórica, a jônica e a coríntia, estas gregas;e a toscana e a compósita, romanas. São, muitas vezes, chamados de capitéis, mas esses elementos se constituem mais especificamente, nas extremidades superiores das colunas. O pódio, as colunas, o entablamento e o frontão são os outros elementos formadores das ordens, porém o objetivo deste texto é entender melhor o uso, variações e características dos capitéis.
A ordem dórica é a mais antiga de todas e atinge o auge no século V a.C.. É a mais simples das três ordens grega sendo, geralmente, utilizada em edificações em homenagem às divindades masculinas, embora o Parthenon, uma edificação que possui a ordem dórica na sua composição seja dedicado a Atena, divindade feminina. Essa afirmação pode ser confirmada pela citação de Vitrúvio (apud SUMMERSON, 2012:11), onde afirma que o dórico representa “a proporção, força e graça do corpo masculino”. Essas colunas possuíam cerca de 20 caneluras, que podem ser definidas como estrias ou ondulações, que cobrem da sua base até o topo.

Figura 1 - Capitel Dórico. Disponível em: <http://www.liboriorinaldi.it/AlbumSicani/Selinunte/images/srcDSC01281.jpg
Já a ordem jônica, elaborada paralelamente à dórica, apresenta formas mais fluidas e leves, sendo utilizada, frequentemente, em edifícios dedicados a divindades femininas. Sobre tal, Vitrúvio (apud SUMMERSON, 2012:11) afirma que o jônico se caracteriza pela “esbelteza feminina”.  É possível perceber nessa ordem uma forte influência oriental. Alguns historiadores acreditam que essa ordem seja influenciada por elementos da arquitetura dos templos egípcios, sendo perceptível a presença de vegetais como palmeiras e papiros . Dentro da ordem jônica, existe uma variável das clássicas colunas: no lugar delas, esculturas representando as formas femininas, as cariátides, uma homenagem às jovens da região de Cária escravizadas pelos Persas.

Figura 2 - Capitel Jônico. Disponível em: <http://dc304.4shared.com/doc/JVqxLJtR/preview_html_m45d119db.jpg>


Figura 3 - Cariátides. Disponível em: <http://www.cimentoeareia.com.br/cariatides2.jpg>

Finalmente, a ordem coríntia pode ser considerada a mais elaborada de todas, foi inicialmente usada somente em interiores, sendo, claramente, mais decorativa e trabalhada e considerada a ordem de uso generalizado na Grécia. Para Vitrúvio (apud SUMMERSON, 2012:11), esta ordem pretendia imitar a “figura delgada de uma menina”. É válido ressaltar que, quanto mais simples a ordem, mais importante era a construção na qual ela estava inserida e quanto mais elaborada a ordem, menos importante era a edificação. Esta ordem é aquela que possui maior rebuscamento e detalhes, composto por folhas e brotos de acanto, foi popularizado, posteriormente, pelos romanos, que prezavam pelo luxo e ostentação em suas obras.


Figura 4 - Capitel Coríntio. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/81/Grece_athenes_olympion_det.jpg>

Em relação às ordens criada pelos romanos, a toscana é considerada uma variação da dórica, muitas vezes definida como protodorica uma simplificação desta ordem. As colunas não possuem caneluras e o capitel é pouco ornamentado. Considerado, muitas vezes, a ordem mais simples de todas. A ordem compósita foi desenvolvida à partir das ordens jônicas e coríntias, as mais elaboradas ordens gregas. É um estilo misto, usando a voluta (elemento em espiral da ordem jônica) em seu capitel e ornamentado pelas folhas de acanto do coríntio.

Figura 5 - Capitel Toscano. Disponível em: <http://dicter.usal.es/DICTER_images/capitel.jpg>

Figura 6 - Capitel Compósito. Disponível em <http://www.sabercultural.com/template/escultores/fotos/Capiteis-Romanicos-1-Foto01.jpg>

Muitos teóricos tentam definir um emprego específico para cada ordem. Vitrúvio, por exemplo, tentava entender o seu emprego original, isto é, na antiguidade clássica; já o teórico renascentista Sebastiano Serlio tenta fazer isto em seu tempo. Ele acreditava que a ordem dórica deveria ser empregada em igrejas dedicadas a santos mais extrovertidos, a ordem jônica a santos mais tranquilos e a ordem coríntia para igrejas de virgens, em especial à Virgem Maria considera, ainda, a ordem toscana adequada para prisões e fortificações e não aponta nenhum emprego específico para a compósita.
Podemos entender, então, que as ordens clássicas eram escolhidas para compor determinada edificação específica e, à partir dessa escolha, a construção passava a ter uma identidade que, juntamente com outros fatores, poderia ser determinada pelas ordens. Como afirma Summerson (2006. p:12),“as ordens, com cerimônia e grande elegância, dominam e controlam a composição à qual estão associadas, tornando os edifícios expressivos”.

Referência Bibliográfica
SUMMERSON, J. A linguagem clássica da arquitetura. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004

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